domingo, 6 de janeiro de 2013

O SIGNIFICADO PEDAGÓGICO-ESPIRITUAL DAS DATAS RELIGIOSAS


                   Às vezes, num lampejo de lucidez, (quando o orgulhoso e infantil ego, sempre na defensiva, cochila) me dou conta das inúmeras oportunidades de aprendizado que deixei passar em minha vida. Uma delas está relacionada à força simbólica (energética para aqueles que assim podem/preferem compreender) das datas religiosas. Hoje, por exemplo, a Igreja Católica e  outras Tradições Espirituais celebram a Festa da Epifania (popularmente Dia de Reis) comemorando a Revelação, a Manifestação, de Jesus ao Mundo.
                     Um primeiro aprendizado possível nos fala das simbologias aí presentes. Os Magos (astrólogos, estudiosos do Universo) devido a virtude da Humildade seguem, sem questionar, sem discutir, O Caminho apontado pela Estrela (símbolo do Ser, do Conhecimento, A Luz). Durante o percurso se deparam com a figura de Herodes (protótipo do eu apequenado, doentio, exaltado, apegado ao poder), o ego em uma de suas mais obscuras manifestações. Numa manjedoura encontram O Senhor Supremo, Humilde,  Desarmado, Pequenino em sua Infinita Grandeza: A Criança Divina. Em sinal de Reconhecimento e Gratidão oferecem significativos presentes: ouro (Realeza: O EU), o incenso (Sacerdócio; aquele que é Consagrado, O Servidor); a mirra (Profeta: aquele que Anuncia, que desvela a Divindade adormecida na Humanidade; que Desperta aqueles que dormem, presas do próprio ego, esquecidos do Eu Divino que habita todos os corações).
                            Uma outra possibilidade, também bem importante, nos remete à jornada mais íntima e profunda de cada um de nós: àquilo que nos irmana, nos iguala ao mesmo tempo em que nos diferencia: a viagem em direção a Si mesmo. Assim, a Solenidade de Hoje nos convida a darmos mais um passo em direção à nossa Essência, "self", Eu Verdadeiro: Criança Divina. Reconhecendo que não somos "apenas" o corpo que habitamos, não somos "apenas" a nossa História. A bem da verdade: não é saudável, tanto espiritual quanto emocionalmente, que nos identifiquemos com nosso corpo (com suas mazelas, dores, prazeres, desejos, limites e possibilidades) nem com nossa História (com suas derrotas e vitórias; tristezas e alegrias). Pois que somos mais que estas realidades passageiras, que estas memórias. Estas, por serem transitórias (da mesma maneira que o ego) devem ser colocadas a Serviço do Eterno que nos habita, de nossa Natureza Divina. Este um dos marcos do dia de hoje: a manifestação da Divindade que habita cada um de nós: Namastê (dizem os budistas: A Divindade que em mim habita saúda A Divindade que em ti habita).
                         Este Reconhecimento (da nossa Natureza Divina) é o que nos permite transcender as incertezas e medos diante dos desafios cotidianos. A Rememoração de que somos Reis (podemos ser Reis da nossa Vontade, no domínio das paixões que por vezes nos governam, sendo Senhores das forças inconscientes que muitas vezes nos manipulam e dirigem; Reis da nossa Palavra, fazendo-a verdadeira, confiável, Palavra Amorosa), Sacerdotes (consagrados pela Vida, por esta oportunidade de estarmos nesta Escola, a sermos Servidores da Vida, da Paz, do Amor, do Eu, Educadores do ego, eternos aprendizes e Profetas (percebendo e reconhecendo a Riqueza do momento Presente; desejando ardentemente despertar, acordar (escutar O Mestre Coração), anunciando para nós mesmos que Hoje é O Tempo Favorável do Recomeçar, do Renascer).
                                     Que possamos com Humildade e Simplicidade (atitudes estas essencialmente pedagógicas) aproveitar mais esta oportunidade de nos Consagrarmos e Renovarmos nossos compromissos com este Belo Ofício de Educadores, Educadores de nós mesmos, dos nossos pensamentos, dos nossos sentimentos, das nossas emoções, das nossas palavras, das nossas atitudes. Educadores pelo Bom Exemplo.
Felicidade a todos!
Carlos Parada.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012


O SAGRADO OFÍCIO DO EDUCADOR

                O estimado educador e psicoterapeuta Dr. Carlos Amadeu Byington em seu belíssimo e fundamental  livro  "A construção amorosa do saber: fundamentos e prática da Pedagogia Simbólica Junguiana" nos alerta para  uma das necessidades inerentes ao nosso Ofício de Educadores: a de nos assumirmos eternos aprendizes para podermos ser educadores.
                A Vida, esta Escola Fantástica, nos oferece a cada dia, nos menores e às vezes (para os menos atenciosos) “insignificantes” acontecimentos a oportunidade ímpar de nos vermos frente a frente com nossas  pequenezas e com nossas grandezas. É verdade que,  diante da maioria das situações que vão de encontro aos nossos pequenos  (ainda que travestidos de grande importância) desejos egóicos, a reação primeira é buscar culpados, reclamar das circunstâncias, nos sentirmos injustiçados, nos culparmos e etc... Ou seja: em tudo podemos aprender um pouco mais a respeito de nós mesmos. E assim, corrigirmos rumos, negarmos ou reafirmarmos princípios, tomarmos decisões, caminhando rumo a construção de nós mesmos. Melhor: caminhando ao encontro da nossa essência, do nosso Ser Verdadeiro, nosso “self”. Sem temor afirmo que aí está uma receita infalível para a felicidade.
Nestes dias, ouvindo meus colegas de trabalho, e olhando para meus hábitos reclamatórios, me dei conta da nossa cegueira. Se olharmos para a nossa situação de professores das Instituições Federais de Ensino Superior veremos que comparativamente às agruras vivenciadas por nossos colegas das redes municipais, estaduais e mesmo particulares (exceto algumas situações específicas) vivemos num oásis. É verdade que nossas perdas salariais e aumento de trabalho dos anos mais recentes é fato inegável. Mas, daí  justificar o desânimo, o descompromisso e a omissão de alguns... Penso que nos fazemos cegos e ingratos. Ingratos primeiramente com a Vida que nos concede esta oportunidade do Exercício Sagrado do Magistério. Aqui cabe lembrar o psicoterapeuta Roberto Crema, reitor da Unipaz, que numa afirmação extremamente feliz nos diz que “O  Serviço é o Viço de Ser”. Talvez aqui esteja uma possível resposta aos desalentos de muitos: a perda de vista da Sacralidade do Ofício do Educador. Não estou falando de abnegação , diletantismo...(embora às vezes até isso se apresente como necessário), em “trabalhar de graça”, ser explorados sem lutar por melhores condições de trabalho. Estou tratando de algo muito mais profundo: estou me remetendo à identidade primeira e última da nossa vocação docente: “a formação das consciências”, a começar a partir de nós mesmos (de nossa maneira de estarmos no mundo, do jeito como nos relacionamos conosco mesmos, com nossas memórias, com nossas dores, com nossas alegrias; a maneira como nos relacionamos com os outros, com as coisas,  com as  nossas ideias e crenças; com nossa profissão. A educação pelo exemplo. Pois que “o trabalho da educação, sejam quais forem as suas particularidades, é primeiramente e acima de tudo um trabalho de si sobre si mesmo”, já advertia o filósofo Georges Gusdorf no imperdível “Professores para que?” . Por uma Pedagogia da Pedagogia. Assim sendo, o Trabalho deve começar -necessariamente-  a partir de nós mesmos, em nós mesmos, em nosso Coração. A perda deste horizonte é, a meu ver, uma das causas centrais do fracasso da Educação (na maioria das Famílias, Escolas, Religiões e  em outros tantos espaços com Vocação Pedagógica).
                Então, se o “magistério adoece tanto” não é tão somente por carga horária excessiva , baixos salários, etc... mas, primeiramente e sobretudo, pela perda de sentido em suas vidas, o que inevitavelmente reflete no exercício da profissão. E Ofício de Educador sem entusiasmo, sem dedicação (consagração), sem alegria torna-se simplesmente impossível de existir. A menos que nos contentemos em ser meros transmissores de ideias de segunda e mesmo de primeira mão, de conteúdos descartáveis ou não, e tc e tal. O que, decididamente, não é o caso.
                Então, quando falamos de uma Educação Espiritualizada estamos nos remetendo a estes educadores, aprendizes permanentes da Vida, que por se disporem a aprender podem começar a ensinar; que se esforçam por praticar aquilo que ensinam; que se humanizam em suas práticas pedagógicas; que percebem que o Ofício de Ensinar é Sagrado, Belo, Essencial. Percebem-se pequenos, mas reconhecem a grandeza da sua Missão. Por isso buscam educar-se primeiramente, acolhendo com respeito, humildade e serenidade, TUDO o que a Vida lhes oferece.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

EDUCAÇÃO DO EGO - CURA DA CRIANÇA FERIDA

Mais uma oportunidade nos é oferecida, nesta Escola que é a Vida.

Já faz muito, mas muito tempo mesmo, que não sinto de maneira tão forte e eloquente -em meu coração- esta Força (energia, motivação) do Natal. Justamente neste ano de tantas dores e perdas, quando menos esperava que meu coração pudesse se alegrar e sentir a Força da Renovação, eis que brota com nova força o desejo de Renascer. Talvez tenha sido justamente a aceitação, do que a Vida me apresentou, sem maiores reclamações ou sentimentos de ter sido injustiçado, o que vem me possibilitando experienciar as Alegrias Natalinas.

E tudo isso me possibilita refletir a respeito da Educação do meu "Eu apequenado" (ego). Aliás, esta é uma das épocas mais propícias (sejamos cristãos ou não) para olharmos bem  de perto para nós mesmos, especialmente para estas "estratégias de sobrevivência" (Claúdio Naranjo), denominadas ego. Diante das nossas dores passadas ou presentes só nos restam duas maneiras de encará-las: nos fazendo de vítimas (sendo esta a pior escolha) da Vida, dos outros, das circunstâncias, etc... ou percebendo os acontecimentos como resultado de nossas escolhas, de nossas ações (sem culpabilização de pais, mães, ou de si mesmo), e mais ainda: como excelentes oportunidades de nos transformarmos em pessoas melhores. O primeiro procedimento nos paralisa, o segundo nos possibilita crescer, libertando a nós mesmos dos nossos fantasmas, das nossas ilusões. O primeiro jeito de ver, representa o aprisionamento na "criança ferida", no passado de abandono, rejeição, exclusão, não atendimento de necessidades, de expectativas....o segundo o reconhecimento e aceitação daquela criança, mas o foco se deslocando para a "criança divina" (estas possibilidades de autocura; de autolibertação).

Este período natalino nos apresenta, de maneira bem forte, esta possibilidade de olharmos com carinho e respeito para nossa  criança interior, sofrida, ferida, mas com o desejo de transcendê-la, superá-la, dando um passo adiante em nossas prisões. Nos desapegando de velhos padrões, rancores, mágoas, ressentimentos, e do hábito de cultivarmos sofrimentos.

O Mistério do Natal: a Divindade se Humanizando para que este Humano e precário que somos possa Divinizar-se. Trocando em miúdos: trata-se de fortalecer este Divino (esta criança sadia) que nos habita. Mas isto só é possível se colocarmos nosso ego (lembranças e vivências passadas, memórias de abandono e rejeição, reais ou imaginários, físicos ou emocionais;  estratégias emocionais de sobrevivência) em seu devido lugar, como servidor daquele Eu Verdadeiro (self junguiano), Eu Divino, Eu Interior, aquela "parte" de nós que é Luz, é Sadia, Divina, Sagrada. Isso também significa que o Espírito se torne senhor da carne, pelo domínio das paixões (egóicas). Um bom começo é sempre, sobretudo em momentos de dúvida ou de grandes decisões, nos perguntarmos: quem em nós quer fazer isso ou aquilo? Quem em nós quer dizer isso ou aquilo? Quem está no comando? Se o que prevalesse é um sentimento de raiva, vingança, de emocionalismo, então estejamos certos de que o ego (medroso, ameaçado, inseguro, sedento de reconhecimento, apegado) está no comando. Se os sentimentos predominantes são de paz interna, serenidade, tranquilidade, é sinal de que o coração está no comando, o Eu Verdadeiro, nosso centro de equilíbrio, está governando.

Aproveitemos este Tempo forte de reeducação das emoções e dos sentimentos. Que a criança da manjedoura, humilde e simples, seja uma motivação para que nossa criança interior se desapegue de velhas amarras que a impedem de crescer.

Paz e Felicidades a todos.
Minha Gratidão, 
CarlosParada.







quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

EDUCAÇÃO, ESPIRITUALIDADE E SOCIEDADE

         É com grande alegria e satisfação que anunciamos o início da primeira turma do Curso de Extensão Educação, Espiritualidade e Sociedade.
         Este é um Curso  de Formação de Educadores (professores, orientadores educacionais, gestores, administradores de abrigos, cuidadores, coordenadores de ONG/OCIP, estudantes de graduação e pós-graduação)  que, ao pautar-se na espiritualidade, visa o despertar da consciência humana para as relações transcendentais (reconhecimento da Sacralidade) do Ser Humano com Ele mesmo, com o Outro e com a Natureza. Surge da constatação de que para construirmos um novo modelo de ser humano e de sociedade urge construirmos um novo modelo de formação de educadores. O Curso tem como objetivos centrais:

                                          - Vivenciar a interdisciplinaridade dos fundamentos da educação em articulação com os multifacetados aspectos da espiritualidade humana.
                                           - Reconhecer a pluralidade de caminhos espirituais como contribuição para a formação do educador e fundamento das suas práticas pedagógicas.
                                            - Produzir projetos de práticas pedagógicas inovadoras a serem desenvolvidos nos espaços de atuação profissional.
                                            - Construção de uma Rede de Partilha de Experiências propiciando a continuidade das reflexões em torno de práticas educativas espiritualizadas. 

          Serão três, os Módulos de aprendizagem: 

                             - I- Fundamentos da Educação e Espiritualidade: a construção dos processos educativos formais e não formais com base na Filosofia, Pedagogia, Psicologia, sociologia e Espiritualidade.

                              - II- Desenvolvimento Humano e Espiritualidade: o desenvolvimento humano consigo mesmo, com a sociedade e com o cosmo.

                              - III- Práticas Pedagógicas para o Século XXI: a formação dos educadores, as práticas pedagógicas inclusivas e a didática para a construção da cultura da solidariedade, da ética e da paz.

           Como metodologia teremos: aulas, palestras, vivências, oficinas e debates.
            
           As aulas acontecerão aos sábados das 8 às 12 horas no prédio da Faculdade de Educação da UFF, Campus Gragoatá, e terão duração do dia 10 de março de 2012 ao dia 09 de junho de 2012.

           Investimento: Gratuito.
           Inscrições aqui no Blog (comentários) ou pelos telefones 2629- 2665 ou 9482- 2435.

           Solicitamos que você nos auxilie divulgando para seus amigos e conhecidos.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

RELIGIÃO SEM ESPIRITUALIDADE?

            Se tem uma coisa que atualmente tem ocupado lugar em meus pensamentos é este fenômeno (não tão recente) da religiosidade desprovida de espiritualidade. Segundo Chogyam Trungpa (Além do Materialismo Espiritual, Cultrix, 1993, p.19) a tendência do ego é ´"transformar todas as coisas visando ao seu uso próprio". Assim sendo, a espiritualidade também não lhe escapa, sendo frequentemente utilizada como mais um dos instrumentos da prática do auto-engano, tão ao gosto das artimanhas egóicas.
            Ora, o ego é intrinsecamente apegado, carente de reconhecimento, cioso de  bajulação, orgulhoso, controlador,  possessivo, arrogante. É medroso por excelência, por ser profundamente inseguro. O trabalho educativo a ser feito é o de desbancar o ego da ilusão de que tem o poder de controlar a Vida. O ego deve ser educado, domesticado, transformado em servidor, colocado à disposição do EU, da Essência, do Self  (Jung), do Eu interior, do Espírito. Mas, tristemente, o que presenciamos, em maior ou menor grau, em quase todos os seres humanos é o primado do ego, ditando ações, impondo-se, provocando sofrimentos. Ao apegar-se coloca-se na contra-mão da História, do movimento permanente da Vida. E ao apegar-se à Vida, caba por perdê-la. Ao apegar-se a idéias, conceitos, hábitos, se torna rígido, esclerosado, morto em vida.
          O mundo contemporâneo, da maneira como ainda está estruturado, segue os modelos egóicos, centrados no isolamento, no consumismo, na insensibilidade às dores do Outro, no medo da morte, no desespero por segurança (falsa segurança). As religiões que poderiam (porque no geral foram desenhadas para isso) servir de alerta, de um convite ao despertar, de instrumentos de desacomodação têm, na maior parte das vezes, se prestado a darem a seus associados uma falsa sensação de evolução espiritual, contribuindo a que se acomodem mais, julgando-se melhores do que os outros, mais puros, mais santos. Isso porque, esquecendo-se de suas origens, e de sua natureza instrumental (instrumentos facilitadores da religação do ser humano consigo mesmo, com o Outro e com a Natureza Divina) convertem-se facilmente em instrumentos egóicos. Daí a centralização de poderes, os exageros hierárquicos provocando o distanciamento das bases e a criação de uma elite pseudo espiritual;  o autoritarismo, o fortalecimento do patriarcalismo, os dogmatismos e intolerância, a confusão entre doutrina e doutrinação. Na base de tudo isso  o tradicional "faça como eu digo e não como eu faço", o enorme abismo entre o que se ensina e o que efetivamente se vive. E se a gente se descuida ninguém escapa disso. Em minha própria Religião, historicamente ainda tão nova enquanto instituição, tenho encontrado  alguns destes "desvios espirituais de conduta" tanto em seus dirigentes quanto em suas bases, por mais que se possa afirmar em contrário.
              O que podemos fazer diante de tal quadro?  Penso que além de buscarmos recuperar nossas origens espirituais necessitamos urgentemente iniciar um Trabalho permanente de cura de nossos patológicos egos. Primeiramente aprendendo a identificar os momentos em que ele está no comando, para colocá-lo no devido lugar de instrumento do EU. Como é que se faz isso? Simples: todas as vezes que nos sentimos melindrados diante do que nos dizem e "nos fazem", todas as vezes que nos sentimos ofendidos, injustiçados, os "coitadinhos", enraivecidos, com dificuldade de nos relacionarmos fraternalmente com os outros... pronto: com certeza o ego está dando as cartas, ditando comportamentos. Por outro, quando somos compassivos, generosos, amorosos, pacientes, otimistas, quando estamos serenos e tranquilos, saberemos que O EU está no comando. O Trabalho é diminuir os momentos em que o ego nos governa e ampliar aqueles em que nosso Eu Superior comanda nossa ação. Afinal, os egos não se entendem. Diálogo e Amor só de coração para coração, de Essência para Essência. Bom Trabalho para todos nós.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A RESPEITO DOS LUGARES

         Faz algum tempo venho me perguntando se esse papo de "educação e espiritualidade" seria ou não mais uma teorização ou modismo tão ao gosto dos, AINDA, hegemônicos setores da Academia.
Então, cabe sempre a pergunta: como é que estes postulados, estas palavras bonitas, podem ser traduzidas no dia a dia de nossas vidas ad intra e ad extra muros escolares?

          Acontecimentos recentes, ocorridos na Faculdade de Educação da UFF, evidenciam uma grande confusão quanto a ocupação dos lugares. Com a tão necessária democratização das relações e do próprio espaço escolar é evidente que a "novidade" tem ainda hoje provoado insegurança em muitos. É como se  desprovidas da escora autoritária algumas pessoas não soubessem como se relacionar para além da rigidez hierárquica. Então temos estudantes que não sabem guardar o saudável e necessário distanciamento entre si e seus professores. Por outro lado, temos professores que em nome da "horizontalização das relações" (uma grande mentira) aceitam passivamente serem desrespeitados por seus alunos. Evidentemente há casos de professores que além de não se darem  o respeito, não respeitam seus alunos e o resultado, quase automático disso, é serem desrespeitados por aqueles que eles desrespeitam. A conivência de "educadores" com estudantes arrogantes, mal educados e autoritários tem produzido um dos cenários mais tristes em espaços que deveriam ser eminentemente educativos. Com medo de serem taxados de autocráticos, muitos educadores calam-se diante dos desmandos e abusos perpetrados por estudantes. Crendo-se todo-poderosos, estudantes mandam e desmandam, fazendo exigências algumas vezes as mais estapafúrdias.

         Uma boa reflexão a respeito dos lugares se faz hoje urgente não apenas na escola. Também nas famílias presenciamos casos semelhantes, onde pais não assumem suas responsabilidades, sendo a maior delas a de dar educação a seus filhos. Mas, a gente só pode dar aquilo que tem. O que vemos? Pais e mães coleguinhas que saem para "a noite" com seus filhos, para  consumir bebidas alcoólicas e "paquerar" (como noticiou a imprensa em algumas ocasiões). Filhos que gritam e ofendem seus pais. Não estou defendendo o retorno  (impossível) ao patriarcalismo dos engenhos canavieiros, a "obediência cega", ou a subserviência. Estou advogando saídas inteligentes para os problemas que temos a enfrentar. Então a escola muitas vezes herda aquilo que deve ser uma das funções da família; a educação básica, o ensino do respeito por todas as pessoas.
  
         Essa doença do desrespeito está mais ou menos presente em toda a parte. Ela evidencia uma das ignorâncias básicas da grande maioria dos seres humanos na contemporaneidade:  o desconhecimento da existência de uma Ordem ou Lei  Universal  a nos governar. No Universo tudo, em sua origem, atende a necessidades específicas, e como tal cada coisa, cada ser humano possui um lugar a ser ocupado. São lugares espirituais (que  podem até se traduzir em materialidades, mas não tem nada a ver com as hierarquias humanamente estabelecidas, cuja intenção na maior das vezes é o exercício do conhecido par domínio-submissão). Isso diz respeito à História de cada um de nós. O importante é bem ocupar os lugares que nos cabem. Estes lugares são primeiramente SERVIÇOS  a serem exercidos em benefício dos que deles necessitam. Por que é tão importante sabermos disso?  Dentre outras coisas porque assim não corremos o risco (egóico) de nos identificarmos com os lugares que ocupamos. Assim: o sacerdote ou sacerdotisa de uma tradição religiosa, seja ela qual for, desconhecendo esta Realidade dos lugares, poderá crer-se "O sacerdote", o "proprietário do sagrado",  "guardião da moral", "policial do dogma"... e como tal, desprezar  e pretender se impor a seus "inferiores", manipulando este poder em benefício próprio. Quem de nós não sabe a que estou me referindo?  Os governantes egoicamente identificados com o lugar tornam-se autoritários usurpadores de um poder que não lhes pertence. O mesmo risco podemos correr nós, os educadores: ao nos acharmos "Os educadores" podemos incorrer no grave equívoco de nos julgarmos os sábios, proprietários do conhecimento, "donos da verdade". Mesmo as mães, os pais, ao não se darem conta de que estão ocupando estes importantes lugares podem tanto não assumir os compromissos oriundos deste lugar que  deveriam estar efetivamente ocupando quanto (tão nefasto quanto este) acreditarem-se "As mães", "Os pais", infalíveis, senhores da vida dos filhos, os  "sempre certos". O importante livro do educador e psicoterapeuta junguiano Carlos Amadeu Byinghton (A construção amorosa do saber) nos dá importantes dicas a respeito da assumência dos arquétipos presentes na ação do educador.

         Agora podemos retomar a questão apresentada no início: educação e espiritualidade, mais uma conversa fiada? Esta questão dos lugares ocupa lugar de destaque, nem sempre tão explícito, é verdade, tanto nas tradições espirituais quanto nas vertentes pedagógicas dignas deste nome. É por isso que se pode falar em Educação Inciática (Gusdorf), Psicologia Iniciática (Graf Durckheim). Arrisco dizer que tanto a Educação quanto a Religião têm como uma de suas principais tarefas propor reflexões, fornecer orientações e prestar acompanhamento a seus discípulos no que diz respeito ao conhecimento e ocupação dos lugares que se apresentam no Universo. Não nos pertencendo, os lugares são responsabilidades a nós confiadas, devemos deles zelar com responsabilidade e dedicação.

         Falemos agora um pouco a respeito deste belo lugar que ocupamos: o planeta Terra, a Mãe Terra, Pachamama generosamente a nos acolher e nutrir em nossas passagens por aqui. O desconhecimento desta realidade ( o lugar não nos pertence, foi a nós confiado) tem gerado atitudes irresponsáveis e mercantis cuja tônica é a devastação. Uma educação de motivação espiritual fornece meios para que  esta compreensão nos seja possível.

         Nos espaços consagrados à educação, o respeito é  condição essencial ao exercício das responsabilidades de cada um e de todos. Em se tratando de espaços públicos as possibilidades são indubitavelmente maiores, mas as responsabilidades também. Afinal, a quem muito foi dado....

Carlos Parada


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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Educar: Educar-se

         A cada dia que passa fico mais convencido de que um dos maiores entraves à realização de práticas educativas dignas deste nome são primeiramente os próprios educadores. Não se assustem, não estou fazendo coro com a grande maioria dos mandatários dos poderes públicos que, irresponsavelmente, além do descaso com a educação escolar culpabilizam os professores pelos fracassos da educação. Nem tão pouco com uma perspectiva mercantilista da educação escolar, segundo a qual a mera realização de cursos,  treinamentos e melhores salários por si resolveriam os graves problemas da educação e garantiriam uma "educação de qualidade". Em primeiro lugar é bom deixar bem claro o que queremos dizer quando falamos em "educação de qualidade". Numa perspectiva espiritual, práticas pedagógicas de qualidade são aquelas que servem de instrumento de humanização tanto dos educandos quanto dos educadores. É uma educação fundamentada em valores humanitários. Uma educação libertadora da tirania do ego. Em suma: uma educação que capacita para a construção de relacionamentos respeitosos, fraternos, responsáveis.
         Alguns pensam que esta modalidade de educação desconhece a necessária formação técnica capaz de capacitar profissionais para o mercado de trabalho. Mas não se trata disso, muito pelo contrário. Uma educação de motivação espiritual ao reconhecer a primazia das pessoas sobre as coisas, e da saudável predominância do ser sobre o ter (o ter servindo ao ser), formará profissionais capazes de  realizações duradouras, promotoras da paz, geradoras de verdadeiro progresso. O progresso técnico em sintonia com o progresso humano. 
         Mas voltando ao início. Por que disse anteriormente que os educadores são um dos maiores entraves à realização de verdadeiras práticas educativas? Simplesmente porque, em se tratando de práticas educativas, o dizer e o fazer não podem estar de maneira alguma dissociados. O educador só é verdadeiramente educador quando suas práticas (todas elas, dentro e fora da sala de aula) estão em sintonia com suas teorias, suas crenças, seus escritos, seus discursos. E isso vale para todos os seres humanos. Afinal, seja qual for nossa ação ela é sempre exemplar: um mau ou bom modelo a ser imitado por outros. O que temos visto, em geral, são professores  que se contentam em serem meros transmissores de conteúdos, na maior parte das vezes absolutamente inúteis e ultrapassados. Mas quem de nós, não querendo se deixar iludir, pode afirmar que todas as suas práticas cotidianas estão em perfeita sintonia e coerência com seus discursos, escritos, e crenças? É por isso que o educador  é, necessariamente, um ser em permanente construção. Quem teve a oportunidade de conhecer mais de perto o querido professor Paulo Freire sabe do que estou falando. As crises e "fracassos educacionais" são a grande oportunidade para que nós educadores assumamos a nossa Missão no mundo: pessoas que se dedicam à construção de humanidades, começando por si próprios.
         É por tais motivos que necessitamos uns dos outros. Práticas educativas, dignas deste nome, estão necessariamente revestidas de sacralidade, uma vez que  dialógicas por excelência. É disso que Gusdorf está falando quanto se remete a uma "educação inciática" (Professores para quê? Por uma pedagogia da pedagogia). O outro não é esta suposta ameaça a nos espreitar. Não é o concorrente com o qual travaremos batalhas por " um lugar ao sol". Isto é mais uma das ciladas do ego, visto que o que é nosso é nosso: colhemos o que plantamos, recebemos o que estamos necesitando para nos tornarmos mais humanos. O Outro é este Mistério que nos revela a nós mesmos. Mas, o "homem apequenado" (Milton Santos: Por uma outra globalização, do pensamento único à consciência universal), ainda não pode enxergar isso posto que o ego (deseducado, medroso, arrogante, iludido) só vê si próprio, caricatura do Ser. É por isso que a solução para os problemas da educação passa necessariamente pela conversão (da etimologia: revolução, mudança) do educador e -em consequência disso- dos métodos por ele adotados. Só unidos, em prol da humanidade, em defesa de nós mesmos e de nossa verdadeira natureza (natureza amorosa, comunitária) poderemos realizar este movimento que é, primeiramente, um movimento de si em direção a si mesmo (à essência e não ao individualismo egóico, elevado (?)  à categoria de dogma pelo nihilismo materialista, historicizado nas práticas capitalistas). Então, esta revolução se inicia no interior de cada um de nós e se faz cultura, modus vivendi, a partir de nossas relações mais corriqueiras e diárias conosco mesmos (com nossa consciência, nosso corpo, nossa alimentação, nossos sentimentos, nossos pensamentos, nossas escolhas de todo momento, nossas coisas), com nossos parceiros de jornada (O Outro), com a Mãe Natureza (expressão da Divindade em nós). É assim que nos capacitamos para realizações construtivas, para a promoção de felicidade, de projetos coletivos e humanitários de mundo, de sociedade. É a este jeito de vivenciar e promover, metodológica e sistematicamente, este modo de ver a si mesmo e ao movimento da vida que chamamos Educação Espiritualizada.

Carlos Parada