quarta-feira, 3 de julho de 2013

UMA IMPORTANTE QUESTÃO



         

                        Já faz algum tempo venho me perguntando a respeito  de uma questão que me parece de fundamental importância especialmente para nós educadores: que diferença nosso trabalho faz em nossa própria Vida e na Vida das pessoas com quem trabalhamos? Este é a meu ver o referencial fundamental em termos avaliativos. É assim que costumo encerrar os semestres letivos. Um dia um estudante me perguntou se eu ficaria satisfeito se numa turma de 40 o impacto do Curso chegasse apenas à vida de uma pessoa daquelas. Na ocasião eu disse que sim. Hoje já responderia que me satisfaria se esta única pessoa fosse eu próprio. Ou seja: se no final de cada semestre letivo eu sair melhor - mais Humano - do que no seu início isso já pode ser considerado um saldo positivo. Mesmo porque, embora a busca seja mesmo pessoal, individual, ela comporta um forte, significativo e imprescindível componente coletivo. Talvez por isso mesmo, em todos os semestres, eu venha percebendo meu lento crescimento ao lado do crescimento dos companheiros de jornada, os estudantes que se inscrevem na disciplina acadêmica Educação, Ciência e Religião aqui na Faculdade de Educação  da Universidade Federal Fluminense.
                            Para algumas pessoas esta questão não se aplicaria a todas as Áreas do Conhecimento, mas tão somente a situações muito específicas da Área de Humanas. Aí é que se enganam. Este movimento de superação das tendências tecnicistas, fragmentárias, cartesianas, seccionadoras dos seres, não se iniciou atualmente na Área da Educação. Aliás, a educação escolar, seja ela em que nível for, inclusive no chamado nível superior, parece ser o campo mais atrasado nestes termos da busca de coerência entre o que se ensina-escreve e o que se efetivamente se pratica na vida cotidiana. E isso mesmo tendo o professor Paulo Freire passado algum tempo entre nós. É na Área da Saúde que o processo vem se dando com maior velocidade e qualidade. Na  educação escolar, salvo algumas iniciativas mais localizadas o que temos além da Pedagogia Waldorf de Rudolf Steiner?
                                O que nos parece mais claro a cada dia é que esta questão do sentido pode muito bem ser aplicada em qualquer Área de Conhecimento e na educação escolar a todas as disciplinas escolares. Ao lado da decisão inicial, a criatividade não conhece problema que não possa ser superado ou pergunta sem resposta. Tenho encontrado professores - em todos os níveis acadêmicos- dedicados e devotados a esta Arte da Transformação. Às vezes com parcos recursos, assoberbados por uma carga horária desumana, com péssimas condições de trabalho,  conseguem níveis elevados em seus processos de ensino-aprendizagem. Do outro lado.... muitos de nós, privilegiados professores das Universidades Públicas, apesar do sucateamento capitaneado pelo Governo Federal, vivemos reclamando dos salários, das condições de trabalho, da carga horária, etc e etc e etc..... e o que muitas vezes se faz além de desperdiçar tempo (nosso e dos estudantes)  e desperdiçar recursos numa verborréia sem sentido que não acrescenta absolutamente nada na vida de ninguém. Conteúdos ultrapassados (se é que algum dia serviram para alguma coisa), sem vida, sem significado nenhum. Mas a postura egóica (expressão da nossa fragilidade emocional e da nossa pequenez espiritual) se compraz nas briguinhas pessoais muitas vezes travestidas em disputas ideológicas; na "fogueira das vaidades", na arrogância acadêmica, na ilusão de que muito sabemos... quando tão pouco sabemos acerca de nós mesmos.
                                   Então, mais do que nunca a pergunta parece atual: que diferença nosso trabalho faz em nossa própria Vida e na Vida daqueles com os quais trabalhamos?

                                       Um abraço,
                                        Carlos Parada.