quinta-feira, 20 de março de 2014

FINALMENTE CONSEGUIMOS INICIAR OS TRABALHOS COM A NOVA TURMA DO CURSO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EDUCAÇÃO, ESPIRITUALIDADE E SOCIEDADE



                Depois de  tanto atraso iniciamos os trabalhos com a nova turma do Curso de Extensão Universitária Educação, Espiritualidade e Sociedade. E como nos ensina A Tradição: tudo acontece no Tempo certo. Isso nos diz que esse "atraso" diz respeito às nossas previsões, aos nossos desejos. Esse um aprendizado nem sempre tão fácil de se adquirir quando tão contaminados por esta cultura egóico-capitalista que nos faz ilusoriamente crer que temos o controle da Vida, das situações. E se tudo acontece no Tempo certo e da maneira certa (e eu tenho no meu coração que sim) o desafio que se nos impõe é nos exercitarmos na arte da Humildade e da Confiança para podermos aceitar-compreender o Sábio Movimento da Vida. Ou se quisermos falar de um jeito mais explicitamente religioso: acolhermos com confiança a Vontade de Deus. E podermos ser gratos, filialmente gratos, por absolutamente tudo o que nos acontece. Venho buscando me exercitar, nem sempre é tão fácil, para chegar neste lugar de ser grato à Vida por tudo o que dela venho recebendo.
                        O  primeiro Encontro da Turma 2014/1 encheu meu coração de alegria: numa bela e ensolarada manhã de sábado, um grupo bem plural (religiosa e profissionalmente falando), alegre, bonito e comunicativo ensaiou  os primeiros passos na construção do que promete ser um espaço de Comunhão Fraterna, de Partilha de Vivências, de Exercício do Sadio Pensar e de Reabastecimento de Nossas Forças. Adélia Prado, mineira de Divinópolis, nossa Poeta Maior nos facilitou os passos iniciais no esclarecimento do conceito de Espiritualidade: "Ver e rever, de modo maravilhoso o que subjaz à poeira do cotidiano". Recuperar a capacidade de maravilhamento diante da Vida, deixando-nos (re) encantar. Sem este Sagrado Sentimento não há prática pedagógica que resista às intempéries, tanto internas quanto externas. Inclusive tenho cá minhas dúvidas a respeito da possibilidade de  práticas verdadeiramente educativas sem este entusiasmo (da etimologia: ter Deus dentro), sem este Encantamento. Mesmo porque, de outra maneira, tudo não passará de conversa de ego para ego. E esse tipo de conversa pode encher os ouvidos, a cabeça, os cadernos e páginas de livros, mas não chega ao único lugar onde pode surtir efeito educativo-transformador: o Coração. E como a Genuína Comunicação só se faz  possível  de Coração a Coração...
                           Sou grato a todos os que estavam presentes, por mais esta oportunidade de aprendizado, de Servir. Desejo a todos nós um bom Curso.
                             

                             Um fraterno e carinhoso abraço,
                              Carlos Parada.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A IGNORÂNCIA NOSSA DE CADA DIA E A POSSIBILIDADE COTIDIANA DA LUZ NA CONSCIÊNCIA
         


         Nestes dias tenho pensado muito a respeito do que temos perdido, em nossa Vida, por causa de nossa ignorância espiritual. Somos, nós brasileiros, considerados um povo religioso. Mas, em que medida, esta nossa religiosidade consegue ir além dos primeiros passos dados na infância? É inegável que temos, também, alguma cultura religiosa, mas daí nos iludirmos que temos maturidade espiritual é uma coisa um tanto distinta. A meu ver este é um dos desafios centrais para os educadores contemporâneos: como tratar a  questão básica, urgente, aquela que nos dá a nossa razão de ser: nossa Natureza Espiritual?
             Creio ser este o grande dilema, a grande possibilidade: o resgate da consciência da nossa Natureza Espiritual. Esta abertura da mente nos leva, necessariamente, à busca do autoconhecimento. Sendo o autoconhecimento o Caminho apontado pelos místicos e místicas de todos os Tempos e Tradições a possibilitar o Encontro com O Sagrado que a todos nós habita, somos -inevitavelmente- chamados a um mergulho profundo nas profundezas do nosso Ser. Trabalho árduo, sofrido, diário, gratificante. Caminho ao qual nenhum de nós poderá escapar, sob pena de ficarmos, cíclica e teimosamente, cometendo os mesmos erros, colhendo os mesmos sofrimentos. E neste olhar para dentro, identificando O Sagrado em Si, como afirma Yogananda, poderemos encontrar O Ser Sagrado em todos, absolutamente todos.
         O processo de Humanização (objetivo primeiro de toda e qualquer prática verdadeiramente Educativa) possibilita O Encontro com O Outro, pelo reconhecimento da Sacralidade do Humano. Neste permanente exercitar-se, educandos e educadores, somos chamados à humildade de nos reconhecermos aprendizes, irmãos na Busca de Si. E isso tanto na Matemática quanto na Língua Portuguesa, na História, na Geografia, em todas as Áreas do Conhecimento. Sim, porque sempre haverá a possibilidade de trazermos as temáticas do cotidiano, nossas questões existenciais, para dialogarem com estas linguagens específicas. A Arte consiste justamente em buscar e construir estas possibilidades. Tudo, absolutamente tudo, pode servir como lição para nossa Vida.  Precisamos querer, desejar intensamente, perceber nas entrelinhas, nos sinais, nos silêncios, estas possibilidades de aprendizado de Si. Mas, antes de tudo, necessitamos coragem para abandonar velhas idéias e conceitos que não nos servem absolutamente para mais nada, padrões que apenas nos escravizam e nos encerram em nossa própria cegueira. Outro dia, em sala de aula, ocorreu-me o quanto nossa perspectiva materialista da existência (muitas vezes travestida em discursos e práticas religiosas) nos empobrece. Conversava com os estudantes quando me veio à mente as imagens do Imaculado Coração de Maria e do Sagrado Coração de Jesus. Eu, que não sou Católico, fiquei muito à vontade para falar a meus alunos (muitos deles evangélicos) a respeito do belíssimo significado destas imagens (não falo aqui de imagens de gesso ou madeira, mas de símbolos imagéticos). O Imaculado Coração de Maria, O Sagrado Feminino que nos habita. O Sagrado Coração de Jesus, o Sagrado Masculino que nos habita. Num a doçura, a acolhida, a aceitação incondicional. No Outro a força, o entusiasmo, a chama que arde, para seguir adiante efetuando em nosso Mundo Interior (e assim no próprio Mundo Exterior) as necessárias transformações que nos possibilitem O Encontro com a nossa Essência. A mesma Força Sagrada em suas polaridades complementares (a exemplo dos ensinamentos junguianos). Duas dimensões da mesma Força Criadora:  Deus-Mãe. O quanto perdemos por causa de nossos preconceitos e orgulho religiosos. A mesma cegueira que nos impede de identificar O Sagrado na "Vida Profana"; O Sagrado presente no Outro. Ainda, espiritualmente infantis, nos prendemos às aparências, aos pobres e empobrecedores conceitos e categorias teológicas. Ainda não conseguimos perceber que A Força Criadora (a Quem muitos preferem chamar Deus) se manifesta das mais diversas formas, aparências, nomes: Jesus, Khrisna, Iemanjá, Virgem Maria, Mãe Divina e tantos outros. Sim, O Espírito sopra onde e como quer. Tendo lugar no coração poderemos recebê-lo. Possa nossa Belíssima e Sagrada Missão de Educadores se converter, a cada dia, neste espaço de conhecimento, gestação de fraternidades, renovação de mentes e libertação dos corações.
Fraternal e amorosamente,
Carlos Parada.

      

quarta-feira, 3 de julho de 2013

UMA IMPORTANTE QUESTÃO



         

                        Já faz algum tempo venho me perguntando a respeito  de uma questão que me parece de fundamental importância especialmente para nós educadores: que diferença nosso trabalho faz em nossa própria Vida e na Vida das pessoas com quem trabalhamos? Este é a meu ver o referencial fundamental em termos avaliativos. É assim que costumo encerrar os semestres letivos. Um dia um estudante me perguntou se eu ficaria satisfeito se numa turma de 40 o impacto do Curso chegasse apenas à vida de uma pessoa daquelas. Na ocasião eu disse que sim. Hoje já responderia que me satisfaria se esta única pessoa fosse eu próprio. Ou seja: se no final de cada semestre letivo eu sair melhor - mais Humano - do que no seu início isso já pode ser considerado um saldo positivo. Mesmo porque, embora a busca seja mesmo pessoal, individual, ela comporta um forte, significativo e imprescindível componente coletivo. Talvez por isso mesmo, em todos os semestres, eu venha percebendo meu lento crescimento ao lado do crescimento dos companheiros de jornada, os estudantes que se inscrevem na disciplina acadêmica Educação, Ciência e Religião aqui na Faculdade de Educação  da Universidade Federal Fluminense.
                            Para algumas pessoas esta questão não se aplicaria a todas as Áreas do Conhecimento, mas tão somente a situações muito específicas da Área de Humanas. Aí é que se enganam. Este movimento de superação das tendências tecnicistas, fragmentárias, cartesianas, seccionadoras dos seres, não se iniciou atualmente na Área da Educação. Aliás, a educação escolar, seja ela em que nível for, inclusive no chamado nível superior, parece ser o campo mais atrasado nestes termos da busca de coerência entre o que se ensina-escreve e o que se efetivamente se pratica na vida cotidiana. E isso mesmo tendo o professor Paulo Freire passado algum tempo entre nós. É na Área da Saúde que o processo vem se dando com maior velocidade e qualidade. Na  educação escolar, salvo algumas iniciativas mais localizadas o que temos além da Pedagogia Waldorf de Rudolf Steiner?
                                O que nos parece mais claro a cada dia é que esta questão do sentido pode muito bem ser aplicada em qualquer Área de Conhecimento e na educação escolar a todas as disciplinas escolares. Ao lado da decisão inicial, a criatividade não conhece problema que não possa ser superado ou pergunta sem resposta. Tenho encontrado professores - em todos os níveis acadêmicos- dedicados e devotados a esta Arte da Transformação. Às vezes com parcos recursos, assoberbados por uma carga horária desumana, com péssimas condições de trabalho,  conseguem níveis elevados em seus processos de ensino-aprendizagem. Do outro lado.... muitos de nós, privilegiados professores das Universidades Públicas, apesar do sucateamento capitaneado pelo Governo Federal, vivemos reclamando dos salários, das condições de trabalho, da carga horária, etc e etc e etc..... e o que muitas vezes se faz além de desperdiçar tempo (nosso e dos estudantes)  e desperdiçar recursos numa verborréia sem sentido que não acrescenta absolutamente nada na vida de ninguém. Conteúdos ultrapassados (se é que algum dia serviram para alguma coisa), sem vida, sem significado nenhum. Mas a postura egóica (expressão da nossa fragilidade emocional e da nossa pequenez espiritual) se compraz nas briguinhas pessoais muitas vezes travestidas em disputas ideológicas; na "fogueira das vaidades", na arrogância acadêmica, na ilusão de que muito sabemos... quando tão pouco sabemos acerca de nós mesmos.
                                   Então, mais do que nunca a pergunta parece atual: que diferença nosso trabalho faz em nossa própria Vida e na Vida daqueles com os quais trabalhamos?

                                       Um abraço,
                                        Carlos Parada.


sexta-feira, 17 de maio de 2013

Estudos sobre o amor - Jurandir Freire Costa



Depois de uma pergunta  de uma estudante em sala, não paro de estudar buscando resposta a essa questão filosófica: "será o amor, tal como o vivemos hoje, um fruto da sociedade capitalista?". Estou adorando ler o livro do Jurandir sobre o tema, e aqui deixo um trechinho para inspirar reflexões.

"O amor romântico, portanto, como qualquer emoção humana, não é feito só de virtudes. Ele carrega um potencial de individualismo e preocupação obsessiva com o próprio bem-estar que pode nos tornar absolutamente indiferentes a tudo e a todos ao redor.

Não se trata, é óbvio, de “reprovar o amor” ou os que pretendem dedicar a vida à realização amorosa; trata-se de mostrar que esse objetivo não está além do bem e do mal. Existe uma grande diferença em afirmar que o amor romântico é um estado afetivo que pode nos fazer muito felizes e que, por isso, pode ou deve ser buscado por quem de direito e apresentar o romantismo como uma obrigação moral universal. No último caso, fazemos de uma possibilidade, necessidade e reforçamos a crença de que todos os que não conseguem amar, no código do romantismo, são pessoas fracassadas, frágeis, insensíveis, “não resolvidas”, do ponto de vista psicológico.

O amor romântico, repito, é uma emoção mundana, comprometida, entre outras coisas, com valores estéticos e morais diretamente ligados a interesses de classe social, situação econômico-cultural e preconceitos raciais, sexuais ou religiosos dos amantes. Longe de ser uma emoção pura, inocente ou “divina”, o romantismo amoroso é uma busca de satisfação sexual e sentimental nem mais nem menos legítima do que outras às quais damos as costas por que estamos empenhados, dia e noite, em amar e ser amados.

O problema, em meu entender, não é conceber “um mundo sem amor”, coisa que julgo inimaginável, mas observar como funciona “um mundo com amor”, ou melhor, um mundo hipnotizado pela obsessão amorosa. Um mundo sem amor é uma conjectura a ser explorada, no melhor dos casos, pela ficção científica; um mundo que gira em torno do amor é uma realidade palpável para os que pertencem às classes privilegiadas das sociedades ocidentalizadas. Esse mundo está muito distante do “mundo-cor-de-rosa” da publicidade hollywoodiana. É um mundo, ao contrário, muitas vezes soturno, triste, deprimido, belicoso, voltado para expectativas que redundam em ciúmes destrutivos, possessividade compulsiva, ódios, ressentimentos, violências contra os ex-parceiros, sentimentos de derrota, mesquinharias em disputas econômicas, vilanias na manipulação de familiares, menosprezo dos que são batidos nas disputas amorosas etc.

O culto irrefletido ao amor romântico é verdade, pode nos levar aos céus do êxtase apaixonado. Mas também pode nos fazer viver, de modo quase permanente, no inferno de uma vida sem alegria, dilacerada pela falta de sentido e de esperanças. Assim, não se trata de mudar o amor porque não se pode mudar o mundo; trata-se de mudar o mundo e ver como podemos mudar nossos modos de amar. Da mesma forma que, ao longo da história, fomos capazes de mudar nossas concepções de justiça, igualdade, liberdade, fraternidade, amizade, amor a Deus, responsabilidade paternal, usufruto da sexualidade, compromisso com o outro etc., podemos, igualmente, experimentar formas de amor que sejam mais satisfatórias. Nem tudo na vida depende de nosso desejo, esforço ou boa vontade, mas muitas coisas dependem da confiança que temos em nosso poder de alterar estados de coisas que podem ser mudados pela forma com que aprendemos a percebê-los, interpretá-los e vivê-los."

Jurandir Freire Costa, no livro "Razões públicas, emoções privadas" p. 133 e 134 (capítulo em que se dedica a responder questões apresentadas sobre seu outro livro: "Sem fraude, nem favor: estudos sobre o amor romântico")

terça-feira, 19 de março de 2013

Professor e aluno - lição espiritual de Gandhi



Esse texto do Gandhi é muito importante para mim. Como educador, percebi a importância da coerência ética de minha própria vida. Percebo que minha oratória fica vazia quando o que eu falo não é acompanhado de atitudes. Mesmo que ninguém saiba... eu sei. Então percebi que para ensinar era preciso um compromisso maior com a vida.
Outro momento importante que vivi foi quando, ainda na minha primeira turma, nas primeiras aulas, li o evangelho de Mateus e ali encontrei: "qualquer, pois que violar um destes mandamentos, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no Reino dos Céus; aquele porém que os cumprir e ensinar será grande no Reino dos Céus" (Mt 5, 19). Lendo isso tive um insight poderoso acompanhado de um estremecimento interno: ensinar é coisa seríssima. Não me afastei, até hoje, dessa impressão profunda que a fala de Jesus me proporcionou. E no contato com os meus alunos, sempre trago essa verdade comigo.

Aí vai o texto do Gandhi:

"É possível que um instrutor, a quilômetros de distância, influencie por seu modo de vida o espírito dos alunos. Para mim, seria inútil ensinar os meninos a dizer a verdade se eu fosse um mentiroso. Um professor covarde jamais conseguirá tornar valentes os seus discípulos, e um desconhecedor do autocontrole não passará para seus alunos o valor da autodisciplina. Vi, portanto, que precisaria ser um eterno objeto-lição para os meninos e meninas que viviam comigo. Dessa forma eles se tornaram meus professores, e assim aprendi que preciso ser bom e viver com retidão - se não por mim, pelo menos por eles. Posso dizer que a disciplina e o autocontrole, cada vez maiores, que me impus na Fazenda Tolstoi eram devidos principalmente a esses meus guardiães."
Mohandas K. Gandhi, Autobiografia, p. 294

Paz!
André

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

DA NATUREZA ESPIRITUAL DO TRABALHO INTELECTUAL II



                Será possível pensarmos a respeito do trabalho intelectual de maneira isolada, à parte, sem conexão com outra modalidades de trabalho?
É claro que podemos pensar e escrever o que quisermos, com o objetivo que quisermos, da forma que quisermos. Então a questão é: como pensar o trabalho intelectual a partir de uma Perspectiva Espiritualizada (que transcenda o ego e portanto não tenha como motivação a vaidade, a busca de fama, o desejo de poder pessoal e tantas outras ilusões)?  Aí faz sentido recolocar a questão: será que faz algum sentido pensarmos o trabalho intelectual - única e exclusivamente -  a partir de sua especificidade? Ainda que tendo suas peculiaridades, como aliás todas as formas de trabalho as tem, penso que o trabalho intelectual (numa perspectiva a partir do espírito) precisa ser pensado no contexto do Trabalho Maior: o Trabalho sobre Si mesmo, o Trabalho de Autoconhecimento e Auto-Transformação. Isso implica, necessariamente, em  buscarmos uma sintonia mais fina entre aquilo que pensamos-escrevemos-falamos e aquilo que efetivamente sentimos-acreditamos-buscamos vivenciar, praticar. 
Dando mais um passo à frente e acima: O Trabalho enquanto Serviço, colaboração à Humanização. Isso, sem dúvida, irmana todas as modalidades de trabalho porque, afinal, pouco importa se estamos com uma caneta, um teclado ou uma enxada ou vassoura nas mãos ou diante de nós.O que realmente conta (em termos espirituais, em termos da nossa própria Humanização, do Encontro com nós mesmos e com a Divindade que nos habita) é a intenção, a dedicação e O Amor com que realizamos as nossas atividades laborais, sejam elas quais forem. É estarmos inteiros, estarmos presente naquilo que estamos fazendo. E isso ainda que seja uma coisa bem simples não é tão fácil, acostumados que estamos a agir no "piloto automático", ausentes de nós mesmos, tarefeiros, executores automáticos de tarefas pré-programadas que realizamos com as mãos ou com a cabeça, mas a mente, o coração frequentemente estão em outro lugar, caminhando em outra direção. Tarefas executadas sem concentração. Resultado: esgotamento físico e mental, desânimo, e até mesmo (o que frequentemente acontece) acidentes.
Na medida em que nos Consagramos (Dedicamos de Coração) àquilo que estamos realizando e o fazemos com consciência,  inteiros, os frutos serão sempre saborosos,   positivos. Simplesmente porque, seguindo a nossa Intuição faremos o que necessita ser feito, não estaremos preocupados com resultados ("o futuro a Deus pertence") e colheremos o que tivermos que colher. Porque não buscamos glória, reconhecimento, recompensa: nos colocamos no lugar de instrumento. Instrumento da Vida, da Natureza, do Universo, ou se preferirmos, de Deus, do Sagrado, Senhor-Senhora do Universo.  
                     Então a questão central volta a se apresentar: o que é que queremos fazer de nossa Vida, de nossa breve estada por esta Terra-Mãe que generosa e amavelmente nos acolhe? Onde está o nosso Coração? Quais as nossas prioridades? Sem nos colocarmos estas questões iniciais penso que o trabalho intelectual assim como qualquer outra modalidade de Trabalho perderá sua Força Transformadora e sua verdadeira razão de ser: instrumento a Serviço do Trabalho Maior de chegarmos um dia a sermos Quem realmente somos (manifestação do Sagrado no Mundo -" imagem e semelhança...." em tudo aquilo que temos de original e de comum com os Outros). 
Felicidades, Saúde, Paz, Alegria e Prosperidade a toda Humanidade!
Carinhosa e afetuosamente,
Carlos Parada.


domingo, 3 de fevereiro de 2013

DA NATUREZA ESPIRITUAL DO TRABALHO INTELECTUAL

             Durante um bom tempo nestes meus 56 anos de Vida, 35 dos quais em sala de aula ocupando este Sagrado Lugar de Educador, passei por diversas crises de "identidade intelectual". Algumas vezes me achava incompetente porque não conseguia (e ainda não consigo) escrever por escrever, escrever simplesmente para demarcar território, para competir, para atrair os holofotes em minha direção. Não é que eu já esteja imune a este mecanismo de defesa egóico, fruto de carências.... é que ainda utilizo outros expedientes para adquirir reconhecimento, ser aceito e outras ilusões deste "eu apequenado". Em outros momentos achava que não tinha o que dizer (e não tinha mesmo) e que valesse a pena ser compartilhado. Às vezes achava que estava no lugar errado, que deveria arrumar outra coisa prá fazer porque o "trabalho intelectual" me parecia demasiadamente enfadonho, desinteressante, até mesmo inútil. Em suma: eu me via muito distante do modelo de intelectual e do tipo de trabalho intelectual predominantes. 
        O historiador Jacques Le Goff, em seu Os intelectuais na Idade Média, dá algumas pistas de como este modelo predominante de intelectual ainda presente nas Universidades e em outros espaços, se constituiu. Aí podemos antever a "mumificação" do intelectual, coisa tão comum em nossos dias.
Em recente (abril 2012) entrevista à Revista Bravo, o poeta, professor aposentado da Universidade Federal do Ceará, Padre Daniel Lima, declama um trecho de poema de sua autoria que -a meu ver- melhor define o perfil de intelectual ainda predominante entre nós. Ele diz assim: "O intelectual é um urubu, que pensa que está vestido mas que está nu, com a pena de pavão enfiada no cu". Pronto: perfeito. 
Mas não estamos aqui para condenar o intelectual, nem tão pouco este triste modelo de "intelectual". Nos colocando no lugar de compreender aí podemos decifrar seres humanos frágeis, inseguros, que necessitam do orgulho e da arrogância como  mecanismos de auto-ilusão, de modo a esconder de si mesmos, seus complexos de inferioridade, suas carências e temores. Armadilhas do ego...
              (vamos ver se consigo retomar o fio da meada pois, pai solteiro que estou, tive que fazer
               uma breve pausa para, aproveitando o sol, estender as roupas de minhas filhas no varal ).
    Pois bem, qual será então o "modelo" de intelectual que possa justificar (para além das agências financiadoras, do mercado editorial, etc.) sua existência nos dias atuais?
       Vou falar a respeito de algo que tenho experiência: vou olhar para minhas próprias vivências. Não que eu me ache um "intelectual modelo". Quero aqui ater-me ao quando e como passei a encontrar sentido em minhas práticas intelectuais.
         No auge da "crise de identidade intelectual", um dia cheguei em casa com muita raiva daquela turma de estudantes de História da disciplina Prática de Ensino. Por mim não voltava mais lá. Pra piorar (ou melhorar) ainda mais as coisas tive que escutar da boca da minha então mulher: "será que o problema não estará em você que ainda não conseguiu chegar até eles?". Pronto: esta a chave que me abriu algumas portas. Não que eu responsabilize o professor, 100%, pelo fracasso da educação formal... mas reconheço que cabe a ele romper com os padrões que impedem a realização de práticas verdadeiramente educativas.
Passei desde então a olhar mais para mim até perceber (emocional e racionalmente) que minhas práticas pedagógicas não estavam desvinculadas de meu Ser e Estar no Mundo. Havia muita incoerência entre o que eu pretensamente ensinava e o que praticava cotidianamente. Minhas palavras saiam do arquivo residente na minha cabeça, não brotavam de meu coração. Eram palavras vazias de vida e que, portanto, não poderiam chegar ao coração de ninguém. Mero eruditismo, pedantismo intelectual. Não havia sintonia entre o que eu pensava, falava, sentia e praticava. À fragmentação de mim mesmo correspondia a fragmentação de conteúdos, metodologias, abordagens, teoria e prática.
            Daí prá frente fui me dando conta, paulatinamente, de que o trabalho reflexivo só faz sentido se puder, primeiramente, me possibilitar me transformar em uma pessoa melhor: mais coerente, amável, responsável, solidário, generoso, etc. Em suma: em sua raiz é bom, e essencial, que esteja a decisão de Servir. Servir ao desenvolvimento humano (libertação de tudo o que nos escraviza e nos torna míopes ou cegos à Realidade e nos faz prisioneiros das ilusões)  e integral dos seres, das sociedades.  A busca não é pelo sucesso, pelo reconhecimento. É o desejo de conhecer a si mesmo, tornar-se melhor, para que o mundo possa ser melhor. Colaborar na diminuição dos sofreres individuais e coletivos.  Transitar pelo mundo causando menos sofrimento possível a si e aos outros. É a esta perspectiva que estou chamando "natureza espiritual" do trabalho intelectual.
                Nesta empreitada já são em número significativo os autores que nos precederam neste Caminho e podem vir em nosso auxílio. Dentre eles: Gurdjieff, Ouspensky, Gusdorf, Graf Durckheim, Carlos Byington, Leloup, Helen Palmer, Milton Santos, Humberto Maturana, Blavatski, Peter Brook, Grotowski, Chopra, Clarissa Pínkola, Claudio Naranjo, Márcia Campbell, Miria de Amorim, D.T. Suzuki, Margareth Martins, Andre Andrade Pereira, Cristina Delou, Joseph Campbell, Mircea Eliade, Rudolf Otto, Dora Incontri,  Pierre Weil, Gloria Lotfi, Regis de Moraes, Ruy Cesar do Espírito Santo e tantas outras e outros.

Até breve,
Carlos Parada.