quarta-feira, 26 de dezembro de 2012


O SAGRADO OFÍCIO DO EDUCADOR

                O estimado educador e psicoterapeuta Dr. Carlos Amadeu Byington em seu belíssimo e fundamental  livro  "A construção amorosa do saber: fundamentos e prática da Pedagogia Simbólica Junguiana" nos alerta para  uma das necessidades inerentes ao nosso Ofício de Educadores: a de nos assumirmos eternos aprendizes para podermos ser educadores.
                A Vida, esta Escola Fantástica, nos oferece a cada dia, nos menores e às vezes (para os menos atenciosos) “insignificantes” acontecimentos a oportunidade ímpar de nos vermos frente a frente com nossas  pequenezas e com nossas grandezas. É verdade que,  diante da maioria das situações que vão de encontro aos nossos pequenos  (ainda que travestidos de grande importância) desejos egóicos, a reação primeira é buscar culpados, reclamar das circunstâncias, nos sentirmos injustiçados, nos culparmos e etc... Ou seja: em tudo podemos aprender um pouco mais a respeito de nós mesmos. E assim, corrigirmos rumos, negarmos ou reafirmarmos princípios, tomarmos decisões, caminhando rumo a construção de nós mesmos. Melhor: caminhando ao encontro da nossa essência, do nosso Ser Verdadeiro, nosso “self”. Sem temor afirmo que aí está uma receita infalível para a felicidade.
Nestes dias, ouvindo meus colegas de trabalho, e olhando para meus hábitos reclamatórios, me dei conta da nossa cegueira. Se olharmos para a nossa situação de professores das Instituições Federais de Ensino Superior veremos que comparativamente às agruras vivenciadas por nossos colegas das redes municipais, estaduais e mesmo particulares (exceto algumas situações específicas) vivemos num oásis. É verdade que nossas perdas salariais e aumento de trabalho dos anos mais recentes é fato inegável. Mas, daí  justificar o desânimo, o descompromisso e a omissão de alguns... Penso que nos fazemos cegos e ingratos. Ingratos primeiramente com a Vida que nos concede esta oportunidade do Exercício Sagrado do Magistério. Aqui cabe lembrar o psicoterapeuta Roberto Crema, reitor da Unipaz, que numa afirmação extremamente feliz nos diz que “O  Serviço é o Viço de Ser”. Talvez aqui esteja uma possível resposta aos desalentos de muitos: a perda de vista da Sacralidade do Ofício do Educador. Não estou falando de abnegação , diletantismo...(embora às vezes até isso se apresente como necessário), em “trabalhar de graça”, ser explorados sem lutar por melhores condições de trabalho. Estou tratando de algo muito mais profundo: estou me remetendo à identidade primeira e última da nossa vocação docente: “a formação das consciências”, a começar a partir de nós mesmos (de nossa maneira de estarmos no mundo, do jeito como nos relacionamos conosco mesmos, com nossas memórias, com nossas dores, com nossas alegrias; a maneira como nos relacionamos com os outros, com as coisas,  com as  nossas ideias e crenças; com nossa profissão. A educação pelo exemplo. Pois que “o trabalho da educação, sejam quais forem as suas particularidades, é primeiramente e acima de tudo um trabalho de si sobre si mesmo”, já advertia o filósofo Georges Gusdorf no imperdível “Professores para que?” . Por uma Pedagogia da Pedagogia. Assim sendo, o Trabalho deve começar -necessariamente-  a partir de nós mesmos, em nós mesmos, em nosso Coração. A perda deste horizonte é, a meu ver, uma das causas centrais do fracasso da Educação (na maioria das Famílias, Escolas, Religiões e  em outros tantos espaços com Vocação Pedagógica).
                Então, se o “magistério adoece tanto” não é tão somente por carga horária excessiva , baixos salários, etc... mas, primeiramente e sobretudo, pela perda de sentido em suas vidas, o que inevitavelmente reflete no exercício da profissão. E Ofício de Educador sem entusiasmo, sem dedicação (consagração), sem alegria torna-se simplesmente impossível de existir. A menos que nos contentemos em ser meros transmissores de ideias de segunda e mesmo de primeira mão, de conteúdos descartáveis ou não, e tc e tal. O que, decididamente, não é o caso.
                Então, quando falamos de uma Educação Espiritualizada estamos nos remetendo a estes educadores, aprendizes permanentes da Vida, que por se disporem a aprender podem começar a ensinar; que se esforçam por praticar aquilo que ensinam; que se humanizam em suas práticas pedagógicas; que percebem que o Ofício de Ensinar é Sagrado, Belo, Essencial. Percebem-se pequenos, mas reconhecem a grandeza da sua Missão. Por isso buscam educar-se primeiramente, acolhendo com respeito, humildade e serenidade, TUDO o que a Vida lhes oferece.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

EDUCAÇÃO DO EGO - CURA DA CRIANÇA FERIDA

Mais uma oportunidade nos é oferecida, nesta Escola que é a Vida.

Já faz muito, mas muito tempo mesmo, que não sinto de maneira tão forte e eloquente -em meu coração- esta Força (energia, motivação) do Natal. Justamente neste ano de tantas dores e perdas, quando menos esperava que meu coração pudesse se alegrar e sentir a Força da Renovação, eis que brota com nova força o desejo de Renascer. Talvez tenha sido justamente a aceitação, do que a Vida me apresentou, sem maiores reclamações ou sentimentos de ter sido injustiçado, o que vem me possibilitando experienciar as Alegrias Natalinas.

E tudo isso me possibilita refletir a respeito da Educação do meu "Eu apequenado" (ego). Aliás, esta é uma das épocas mais propícias (sejamos cristãos ou não) para olharmos bem  de perto para nós mesmos, especialmente para estas "estratégias de sobrevivência" (Claúdio Naranjo), denominadas ego. Diante das nossas dores passadas ou presentes só nos restam duas maneiras de encará-las: nos fazendo de vítimas (sendo esta a pior escolha) da Vida, dos outros, das circunstâncias, etc... ou percebendo os acontecimentos como resultado de nossas escolhas, de nossas ações (sem culpabilização de pais, mães, ou de si mesmo), e mais ainda: como excelentes oportunidades de nos transformarmos em pessoas melhores. O primeiro procedimento nos paralisa, o segundo nos possibilita crescer, libertando a nós mesmos dos nossos fantasmas, das nossas ilusões. O primeiro jeito de ver, representa o aprisionamento na "criança ferida", no passado de abandono, rejeição, exclusão, não atendimento de necessidades, de expectativas....o segundo o reconhecimento e aceitação daquela criança, mas o foco se deslocando para a "criança divina" (estas possibilidades de autocura; de autolibertação).

Este período natalino nos apresenta, de maneira bem forte, esta possibilidade de olharmos com carinho e respeito para nossa  criança interior, sofrida, ferida, mas com o desejo de transcendê-la, superá-la, dando um passo adiante em nossas prisões. Nos desapegando de velhos padrões, rancores, mágoas, ressentimentos, e do hábito de cultivarmos sofrimentos.

O Mistério do Natal: a Divindade se Humanizando para que este Humano e precário que somos possa Divinizar-se. Trocando em miúdos: trata-se de fortalecer este Divino (esta criança sadia) que nos habita. Mas isto só é possível se colocarmos nosso ego (lembranças e vivências passadas, memórias de abandono e rejeição, reais ou imaginários, físicos ou emocionais;  estratégias emocionais de sobrevivência) em seu devido lugar, como servidor daquele Eu Verdadeiro (self junguiano), Eu Divino, Eu Interior, aquela "parte" de nós que é Luz, é Sadia, Divina, Sagrada. Isso também significa que o Espírito se torne senhor da carne, pelo domínio das paixões (egóicas). Um bom começo é sempre, sobretudo em momentos de dúvida ou de grandes decisões, nos perguntarmos: quem em nós quer fazer isso ou aquilo? Quem em nós quer dizer isso ou aquilo? Quem está no comando? Se o que prevalesse é um sentimento de raiva, vingança, de emocionalismo, então estejamos certos de que o ego (medroso, ameaçado, inseguro, sedento de reconhecimento, apegado) está no comando. Se os sentimentos predominantes são de paz interna, serenidade, tranquilidade, é sinal de que o coração está no comando, o Eu Verdadeiro, nosso centro de equilíbrio, está governando.

Aproveitemos este Tempo forte de reeducação das emoções e dos sentimentos. Que a criança da manjedoura, humilde e simples, seja uma motivação para que nossa criança interior se desapegue de velhas amarras que a impedem de crescer.

Paz e Felicidades a todos.
Minha Gratidão, 
CarlosParada.