A cada dia que passa fico mais convencido de que um dos maiores entraves à realização de práticas educativas dignas deste nome são primeiramente os próprios educadores. Não se assustem, não estou fazendo coro com a grande maioria dos mandatários dos poderes públicos que, irresponsavelmente, além do descaso com a educação escolar culpabilizam os professores pelos fracassos da educação. Nem tão pouco com uma perspectiva mercantilista da educação escolar, segundo a qual a mera realização de cursos, treinamentos e melhores salários por si resolveriam os graves problemas da educação e garantiriam uma "educação de qualidade". Em primeiro lugar é bom deixar bem claro o que queremos dizer quando falamos em "educação de qualidade". Numa perspectiva espiritual, práticas pedagógicas de qualidade são aquelas que servem de instrumento de humanização tanto dos educandos quanto dos educadores. É uma educação fundamentada em valores humanitários. Uma educação libertadora da tirania do ego. Em suma: uma educação que capacita para a construção de relacionamentos respeitosos, fraternos, responsáveis.
Alguns pensam que esta modalidade de educação desconhece a necessária formação técnica capaz de capacitar profissionais para o mercado de trabalho. Mas não se trata disso, muito pelo contrário. Uma educação de motivação espiritual ao reconhecer a primazia das pessoas sobre as coisas, e da saudável predominância do ser sobre o ter (o ter servindo ao ser), formará profissionais capazes de realizações duradouras, promotoras da paz, geradoras de verdadeiro progresso. O progresso técnico em sintonia com o progresso humano.
Mas voltando ao início. Por que disse anteriormente que os educadores são um dos maiores entraves à realização de verdadeiras práticas educativas? Simplesmente porque, em se tratando de práticas educativas, o dizer e o fazer não podem estar de maneira alguma dissociados. O educador só é verdadeiramente educador quando suas práticas (todas elas, dentro e fora da sala de aula) estão em sintonia com suas teorias, suas crenças, seus escritos, seus discursos. E isso vale para todos os seres humanos. Afinal, seja qual for nossa ação ela é sempre exemplar: um mau ou bom modelo a ser imitado por outros. O que temos visto, em geral, são professores que se contentam em serem meros transmissores de conteúdos, na maior parte das vezes absolutamente inúteis e ultrapassados. Mas quem de nós, não querendo se deixar iludir, pode afirmar que todas as suas práticas cotidianas estão em perfeita sintonia e coerência com seus discursos, escritos, e crenças? É por isso que o educador é, necessariamente, um ser em permanente construção. Quem teve a oportunidade de conhecer mais de perto o querido professor Paulo Freire sabe do que estou falando. As crises e "fracassos educacionais" são a grande oportunidade para que nós educadores assumamos a nossa Missão no mundo: pessoas que se dedicam à construção de humanidades, começando por si próprios.
É por tais motivos que necessitamos uns dos outros. Práticas educativas, dignas deste nome, estão necessariamente revestidas de sacralidade, uma vez que dialógicas por excelência. É disso que Gusdorf está falando quanto se remete a uma "educação inciática" (Professores para quê? Por uma pedagogia da pedagogia). O outro não é esta suposta ameaça a nos espreitar. Não é o concorrente com o qual travaremos batalhas por " um lugar ao sol". Isto é mais uma das ciladas do ego, visto que o que é nosso é nosso: colhemos o que plantamos, recebemos o que estamos necesitando para nos tornarmos mais humanos. O Outro é este Mistério que nos revela a nós mesmos. Mas, o "homem apequenado" (Milton Santos: Por uma outra globalização, do pensamento único à consciência universal), ainda não pode enxergar isso posto que o ego (deseducado, medroso, arrogante, iludido) só vê si próprio, caricatura do Ser. É por isso que a solução para os problemas da educação passa necessariamente pela conversão (da etimologia: revolução, mudança) do educador e -em consequência disso- dos métodos por ele adotados. Só unidos, em prol da humanidade, em defesa de nós mesmos e de nossa verdadeira natureza (natureza amorosa, comunitária) poderemos realizar este movimento que é, primeiramente, um movimento de si em direção a si mesmo (à essência e não ao individualismo egóico, elevado (?) à categoria de dogma pelo nihilismo materialista, historicizado nas práticas capitalistas). Então, esta revolução se inicia no interior de cada um de nós e se faz cultura, modus vivendi, a partir de nossas relações mais corriqueiras e diárias conosco mesmos (com nossa consciência, nosso corpo, nossa alimentação, nossos sentimentos, nossos pensamentos, nossas escolhas de todo momento, nossas coisas), com nossos parceiros de jornada (O Outro), com a Mãe Natureza (expressão da Divindade em nós). É assim que nos capacitamos para realizações construtivas, para a promoção de felicidade, de projetos coletivos e humanitários de mundo, de sociedade. É a este jeito de vivenciar e promover, metodológica e sistematicamente, este modo de ver a si mesmo e ao movimento da vida que chamamos Educação Espiritualizada.
Carlos Parada
Carlos Parada
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