O SAGRADO OFÍCIO DO
EDUCADOR
O
estimado educador e psicoterapeuta Dr. Carlos Amadeu Byington em seu belíssimo
e fundamental livro "A construção amorosa do saber: fundamentos e
prática da Pedagogia Simbólica Junguiana" nos alerta para uma das necessidades inerentes ao nosso
Ofício de Educadores: a de nos assumirmos eternos aprendizes para podermos ser
educadores.
A
Vida, esta Escola Fantástica, nos oferece a cada dia, nos menores e às vezes
(para os menos atenciosos) “insignificantes” acontecimentos a oportunidade
ímpar de nos vermos frente a frente com nossas
pequenezas e com nossas grandezas. É verdade que, diante da maioria das situações que vão de
encontro aos nossos pequenos (ainda que
travestidos de grande importância) desejos egóicos, a reação primeira é buscar
culpados, reclamar das circunstâncias, nos sentirmos injustiçados, nos
culparmos e etc... Ou seja: em tudo podemos aprender um pouco mais a respeito
de nós mesmos. E assim, corrigirmos rumos, negarmos ou reafirmarmos princípios,
tomarmos decisões, caminhando rumo a construção de nós mesmos. Melhor:
caminhando ao encontro da nossa essência, do nosso Ser Verdadeiro, nosso
“self”. Sem temor afirmo que aí está uma receita infalível para a felicidade.
Nestes dias, ouvindo meus colegas
de trabalho, e olhando para meus hábitos reclamatórios, me dei conta da nossa
cegueira. Se olharmos para a nossa situação de professores das Instituições
Federais de Ensino Superior veremos que comparativamente às agruras vivenciadas
por nossos colegas das redes municipais, estaduais e mesmo particulares (exceto
algumas situações específicas) vivemos num oásis. É verdade que nossas perdas
salariais e aumento de trabalho dos anos mais recentes é fato inegável. Mas,
daí justificar o desânimo, o
descompromisso e a omissão de alguns... Penso que nos fazemos cegos e ingratos.
Ingratos primeiramente com a Vida que nos concede esta oportunidade do
Exercício Sagrado do Magistério. Aqui cabe lembrar o psicoterapeuta Roberto
Crema, reitor da Unipaz, que numa afirmação extremamente feliz nos diz que
“O Serviço é o Viço de Ser”. Talvez aqui
esteja uma possível resposta aos desalentos de muitos: a perda de vista da Sacralidade do Ofício do Educador. Não estou
falando de abnegação , diletantismo...(embora às vezes até isso se apresente como necessário),
em “trabalhar de graça”, ser explorados sem lutar por melhores condições de
trabalho. Estou tratando de algo muito mais profundo: estou me remetendo à
identidade primeira e última da nossa vocação docente: “a formação das
consciências”, a começar a partir de nós mesmos (de nossa maneira de estarmos
no mundo, do jeito como nos relacionamos conosco mesmos, com nossas memórias,
com nossas dores, com nossas alegrias; a maneira como nos relacionamos com os
outros, com as coisas, com as nossas ideias e crenças; com nossa profissão.
A educação pelo exemplo. Pois que “o trabalho da educação, sejam quais forem as
suas particularidades, é primeiramente e acima de tudo um trabalho de si sobre
si mesmo”, já advertia o filósofo Georges Gusdorf no imperdível “Professores
para que?” . Por uma Pedagogia da Pedagogia. Assim sendo, o Trabalho deve
começar -necessariamente- a partir de
nós mesmos, em nós mesmos, em nosso Coração. A perda deste horizonte é, a meu
ver, uma das causas centrais do fracasso da Educação (na maioria das Famílias,
Escolas, Religiões e em outros tantos
espaços com Vocação Pedagógica).
Então,
se o “magistério adoece tanto” não é tão somente por carga horária excessiva ,
baixos salários, etc... mas, primeiramente e sobretudo, pela perda de sentido
em suas vidas, o que inevitavelmente reflete no exercício da profissão. E
Ofício de Educador sem entusiasmo, sem dedicação (consagração), sem alegria
torna-se simplesmente impossível de existir. A menos que nos contentemos em ser
meros transmissores de ideias de segunda e mesmo de primeira mão, de conteúdos
descartáveis ou não, e tc e tal. O que, decididamente, não é o caso.
Então,
quando falamos de uma Educação Espiritualizada estamos nos remetendo a estes
educadores, aprendizes permanentes da Vida, que por se disporem a aprender
podem começar a ensinar; que se esforçam por praticar aquilo que ensinam; que
se humanizam em suas práticas pedagógicas; que percebem que o Ofício de Ensinar
é Sagrado, Belo, Essencial. Percebem-se pequenos, mas reconhecem a grandeza da
sua Missão. Por isso buscam educar-se primeiramente, acolhendo com respeito,
humildade e serenidade, TUDO o que a Vida lhes oferece.